Empurrão que ajuda a faturar em dólar

Empresas da área de tecnologia da informação vão ganhar um bom empurrão para faturar em dólares. O Projeto Brasil IT-Emerging Players, resultado de uma parceria de R$ 6 milhões entre a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), está com inscrições abertas para companhias interessadas em atuar no exterior.

O objetivo é internacionalizar empresas em um período de dois anos, com a meta de atingir um volume de exportações, entre as empresas selecionadas, de até US$ 2,3 milhões, já em 2010. As inscrições para o projeto vão até o primeiro semestre do próximo ano. De janeiro a julho de 2009, 60 empresas já se inscreveram.

“A maioria delas tem algum produto inovador que pode interessar os compradores estrangeiros”, assegura Mauricio Schneck, assessor de relações internacionais da Anprotec. Entre as companhias inscritas estão a FindMe, que vende localizadores GPS para pessoas e animais de estimação, e a Supereficiente, que desenvolve sistemas para alfabetização em Braille e linguagem de sinais. Organizações da área de TI que já exportam produtos e serviços aconselham investimentos em viagens, treinamentos e até a contratação de profissionais estrangeiros.

Os mercados-alvo do Projeto Brasil IT-Emerging Players são os Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Portugal, Espanha e países da América Latina.

Segundo o executivo, a iniciativa vai apoiar o desenvolvimento da cultura exportadora das companhias por meio de um diagnóstico empresarial e de consultorias. A ideia é que cada negócio passe por etapas de estudo para identificar o potencial de exportação, definir mercados e a estratégia de atuação.

“Depois de selecionadas, as empresas recebem uma consultoria técnica”, explica. “O segundo passo é desenhar um plano de atividades para a internacionalização, que vai ser definido com os empreendedores.” Os organizadores ainda não determinaram o número de empresas que serão escolhidas.
Para os negócios mais preparados para a internacionalização, o suporte inclui pesquisas de mercado e a participação em eventos do setor de TI, como a Feira Internacional de Tecnologia de Informação, Telecomunicações, Softwares e Serviços (CeBIT), na Alemanha. No último mês de março, a CeBIT reuniu 4,3 mil empresas de 69 países e atraiu mais de 400 mil visitantes em seis dias. “O projeto vai alavancar negócios de empresas que têm baixo nível de experiência no exterior, mas apresentam boas práticas de gestão”, diz Alessandro Teixeira, presidente da Apex-Brasil.

Uma das companhias inscritas no projeto é a FindMe, de São Paulo, que desenvolve sistemas de localização portátil para pessoas, animais, veículos e mercadorias. “Os produtos podem ser usados em qualquer lugar do mundo”, garante o diretor Theodoros Megalomatidis. Com apenas dois funcionários, a FindMe existe desde 2004 e fatura R$ 350 mil por ano. O plano inicial é exportar os localizadores GPS para pessoas, animais de estimação e notebooks. “Vamos trabalhar com compradores do Peru, Colômbia e Chile.”No primeiro ano, a expectativa de faturamento com as vendas externas é chegar a US$ 200 mil, incluindo a entrega de equipamentos e a exploração do sistema de localização. Até lá, Megalomatidis deve investir US$ 100 mil para financiar atividades de produção, logística e serviços locais de apoio.

A Supereficiente, que desenvolve sistemas para alfabetização em braille e libras (língua brasileira de sinais), também pretende fechar vendas na América Latina. “Quero exportar para clientes do governo e o projeto vai me dar as informações necessárias para fazer negócios da maneira certa”, justifica o gerente Nelson Silva Jr. A empresa tem três funcionários e já faturou R$ 50 mil em 2009 – os produtos foram lançados em abril. Com a exportação, pretende faturar cerca de R$ 100 mil mensais, a partir do primeiro ano de atividades no exterior.
Companhias de TI que já têm clientes fora do Brasil aconselham ações como treinamentos, viagens, eventos no exterior e equipes estrangeiras. Para exportar com sucesso, é importante fazer investimentos constantes desde a fundação da empresa, segundo Carlos Alberto Jayme, diretor da curitibana Cinq Technologies, que coleciona contratos com outros países há seis anos.

“Apostamos em iniciativas como cursos de inglês para funcionários e a admissão de executivos estrangeiros”, explica Jayme, que se especializou em serviços de desenvolvimento de software sob encomenda. Com 250 funcionários, a Cinq fatura R$ 16 milhões e 10% da receita vêm da exportação para os Estados Unidos e Canadá. A meta é saltar de um volume de R$ 800 mil, obtido no ano passado, para R$ 2 milhões em 2009 com os negócios além-fronteiras.
“O mercado de exportação de serviços de TI precisa ser mais explorado pelo governo brasileiro”, avalia Marco César Bassi, CEO do grupo paulista HDI, que trabalha com serviços automatizados de garantia de qualidade de software em oito países. “Na maioria dos casos, trabalhamos melhor que a Índia e a China, mas precisamos de um marketing mais agressivo e ir a feiras do segmento.”
Para se ter uma ideia, o mercado de garantia de qualidade de software movimenta R$ 800 milhões por ano, somente na América Latina.

Com 85 funcionários no Brasil, o HDI já plantou 15 executivos no Chile e seis empregados na Espanha. Do faturamento anual de R$ 12 milhões, 15% vêm da exportação. Em 2008, os negócios no exterior chegaram a R$ 1,6 milhão e, em 2009, o objetivo é ultrapassar R$ 2 milhões, mesmo com a crise. “Estamos recrutando parceiros para usar a nossa metodologia de testes na Alemanha, Japão e Arábia Saudita.”

A carioca Nexo, que desenha softwares para as áreas de saúde ocupacional, segurança do trabalho e meio ambiente, está de olho no mercado mexicano. “Montamos um escritório com um parceiro local”, diz o diretor Ricardo Donner.
Mas para bancar o empreendimento, a empresa investiu em viagens e eventos no México. “Gastamos US$ 25 mil nos últimos dois anos.” (JS)

Fonte: Jornal Valor Econômico – Julho de 2009.

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