Medidas de segurança podem evitar acidentes do trabalho

Presidente do metrô diz que é impossível evitar acidente na obra

SÃO PAULO – O presidente da Companhia do Metropolitano (Metrô), Luiz Carlos David, disse que os acidentes em construções de grande porte são comuns e comparou as obras do metrô à aviação, onde ‘não há risco zero de que o avião não pode cair’. Nesta terça-feira, o Jornal Nacional divulgou laudos que mostram que há risco na obra da estação Fradique Coutinho , que fica a menos de 2 km da estação Pinheiros, onde um demoronamento matou sete pessoas em janeiro.

– É impossível, no subsolo de São Paulo, fazer uma obra do porte da Linha 4, com 12,8 km de extensão, sem acidentes. Quer vocês queiram ou não, vão acontecer, infelizmente, problemas deste tipo – disse David em entrevista aos jornalistas.

Apesar disso, o metrô anunciou que as soldas condenadas serão refeitas e que foi suspensa a escavação no quinto nível do buraco da estação Fradique Coutinho por medida de cautela. O poço tem 25 metros e restam 5 metros a serem escavados. Depois de uma vistoria, o diretor de Engenharia e Obras da Companhia do Metropolitano, Luiz Carlos Grilo, afirmou que não há risco de acidente no local .

Segundo Luiz Carlos David, o metrô é o ‘orgulho da engenharia nacional’:

– Infelizmente, assim como cai avião, também acontecem acidentes. Não existe uma viagem de avião com risco zero de que o avião não pode cair. O que podemos garantir é que estamos tomando todas as cautelas, todas as precauções – afirmou.

Segundo o presidente da empresa, sempre ocorreram acidentes nas obras do metrô em São Paulo. Lembrou, por exemplo, que houve um vazamento de gás durante a construção da linha norte-sul e que na escavação dos túneis surgem problemas, como fossas sanitárias e galerias de águas pluviais.

David defendeu o Consórcio Via Amarela e que não houve falhas na fiscalização por parte do Metrô e negou que o relacionamento com as empreiteiras tenha sido desgastado por conta do acidente. O secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, havia afirmado durante a madrugada que a situação ‘passou dos limites’.

– A relação do consórcio e do metrô não está desgastada, mas evidentemente, depois do acidente, estamos nos aprofundando mais – disse.

Na avaliação dele, há ‘um componente político’ nos questionamentos sobre a construção da Linha 4 por conta da parceria entre estado e iniciativa privada. Sem citar nomes, David afirmou que ‘há muita gente que não quer que a linha do metrô passe para a iniciativa privada’.

– Existe nesta obra, em particular, um componente político muito grande. Isso acontece porque esta obra é uma evolução, tem um projeto diferente chamado turn-key, que é bom para o estado – disse ele.

David tentou ainda reduzir a importância dos laudos divulgados pelo Jornal Nacional, que indicam problemas na solda da estrutura de apoio da Estação Fradique Coutinho.

– Este laudo foi feito por especialista em solda de estrutura definitiva, que está acostumado a fazer laudos para estruturas definitivas da Petrobras, para estruturas definitivas metálicas – afirmou, acrescentando que a estrutura onde as soldas estão é provisória.

– Há 20 ou 30 anos, disse, sequer eram feitas soldas nas construções dos túneis – disse.

Mesmo assim, ele determinou ao Consórcio que contrate uma auditoria independente para que sejam revistas as condições de segurança em todas as frentes de trabalho das obras da linha 4.

David disse que o trabalho do Consórcio Via Amarela está sendo realizado como o metrô espera e que o contrato não será revisto. Para ele, o estado seria prejudicado se tivesse de modificar o contrato.
– Se fosse nos moldes antigos, onde o metrô fiscalizava a obra, quem iria pagar o desastre em Pinheiros era o metrô e a população de São Paulo. Agora, quem vai ter que pagar o prejuízo é o consórcio. É o consorcio que está indenizando as famílias – disse.

Nesta manhã, o presidente do Metrô esteve no canteiro de obras da estação Fradique Coutinho e, segundo ele, não há qualquer problema de movimentação de solo. Os vizinhos estão assustados e dizem que, desde o acidente da estação Pinheiros, não são recebidos pelos responsáveis pela obra, que poderia tranqüilizá-los.

Os acidentes, afirmou, embora tenham grande repercussão, nem sempre são de grande proporção. Ele lembrou, por exemplo, o acidente que matou um operário na obra da estação Oscar Freire e disse que ele ocorreu ‘depois de 575 dias sem problema efetivo’.

– Se houver necessidade de tomar medidas administrativas, quer seja contra o consórcio ou contra algum colega do metrô, vamos tomar – afirmou David.

Fonte: O Globo – Fevereiro/2007 – http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidapublica/conteudo.phtml?id=636832

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